quinta-feira, 2 de julho de 2020

Tá sentado? Este é o preço do tratamento com remédio aprovado para a COVID-19


Na busca por medicamentos contra o coronavírus, a farmacêutica norte-americana Gilead Sciences anunciou nesta semana o preço sob o qual será vendido o antiviral remdesivir, remédio que pode ser receitado para o tratamento da COVID-19. No contexto da pandemia, a droga recebeu autorização de uso emergencial para os pacientes contaminados, emitido pela Food and Drug Administration (FDA), desde maio.

O tratamento com o remdesivir custará, apenas considerando os medicamentos, US$ 3.120 (o que representa mais de R$ 16,5 mil) por paciente, dentro de um hospital privado nos Estados Unidos. Para termos um valor de referência em reais, a quantia ultrapassa o preço de dois iPhones 11 Pro Max com capacidade de 64 GB, se convertida sem impostos aqui no Brasil. Segundo o site oficial da Apple, o modelo nessas especificações custa R$ 7.599 por aqui.

A maioria dos pacientes tratados com remdesivir deve utilizar seis frascos do medicamento em cinco dias, totalizando os US$ 3.120. Já o tratamento mais longo, com duração de 10 dias, utilizará em média de 11 frascos com o valor de US$ 5.720 (cerca de 30 mil reais) para os pacientes com seguros de saúde privados.

O potencial de retorno financeiro da fórmula é enorme, já que somente nos Estados Unidos são mais de 2,5 milhões de contaminados pelo coronavírus, segundo o mapa da doença da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda esse mês, em julho, os primeiros medicamentos já devem chegar aos centros de saúde no país e, inclusive, a farmacêutica prevê doações diretas da droga para o governo dos EUA.

Por outro lado...

Nos Estados Unidos, os medicamentos costumam ter dois preços de tabela, sendo que um é destinado para os planos de saúde e o outro para governos, ou seja, esse valor não será o mesmo para todos os tratamentos. Por exemplo, a farmacêutica comenta que venderá o remdesivir por US$ 390 (cerca de dois mil reais) por frasco para governos “de países desenvolvidos” em todo o mundo, enquanto o preço para as companhias de seguros privadas dos EUA será de US$ 520 (cerca de 2,7 mil reais).

Segundo Daniel O’Day, CEO da Gilead Sciences, o preço foi determinado com base nos países desenvolvidos com menor poder de compra. Conforme a entrevista feita pela CNBC, O'Day também explica que esse preço único deve evitar longas negociações com cada país, que podem desacelerar o acesso ao medicamento.

“O remdesivir, nosso tratamento experimental, é o primeiro antiviral a demonstrar melhora do paciente em ensaios clínicos para COVID-19 e não há manual para determinar o preço de um novo medicamento em uma pandemia”, explicou O'Day sobre os preços que podem ser considerados elevados.

Além disso, a empresa também afirma que está firmando acordos com fabricantes de genéricos para fornecer o medicamento a um “custo substancialmente mais baixo” nos países em desenvolvimento, ampliando o acesso ao remdesivir. Isso porque a droga não é encontrada comercialmente e nem está disponível em inúmeros países.

Remdesivir é eficaz contra COVID?

Embora ainda não existam tratamentos para a COVID-19 aprovados integralmente pela FDA, pesquisadores já encontraram algumas evidências de que o remdesivir pode acelerar o tempo de recuperação de pacientes graves. Inclusive, em abril, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA divulgou resultados de estudo que mostrava a eficácia do antiviral e que os pacientes medicados se recuperavam cerca de quatro dias mais rápido do que aqueles que não usaram.

Anteriormente, o remdesivir já era indicado para impedir que determinados vírus, agora, também o novo coronavírus, façam cópias de si mesmos e, dessa forma, consigam sobrecarregar o sistema imunológico dos pacientes. Inclusive a Coalizão COVID Brasil, formada pelos principais hospitais brasileiros e pela Fiocruz, estão testando o medicamento.

No mundo todo, pelo menos o Reino Unido, o Japão, a Rússia e a Coreia do Sul já recomendam, em algum nível, o uso do remdesivir para o tratamento da COVID-19. Inclusive, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) recomendou, na semana passada, a autorização "condicional" do uso do antiviral em pacientes afetados pelo coronavírus. No comunicado, a EMA informava que esse era o primeiro medicamento contra a COVID-19 formalmente recomendado para os pacientes da União Europeia.

No entanto, o acesso ao medicamento não deve ser amplo, pelo menos não nos próximos meses. Isso porque, nesta segunda-feira, a Gilead informou que a maior parte de sua produção será destinada para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS). Em números, segundo a agência Reuters, o governo norte-americano já adquiriu mais de 500 mil doses, o que representaria toda da produção da fabricante para julho e 90% da capacidade de agosto e setembro.

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou, no mês de maio, que estava em contato com a farmacêutica para acompanhar a evolução dos estudos.

Mais testes

A própria Gilead Sciences continua a pesquisar a eficácia do remdesivir e quais são so seus melhores usos no tratamento de pacientes da COVID-19. A farmacêutica também anunciou planos para os testes de uma versão em spray da droga em humanos, o que deve facilitar o uso em casos mais graves da doença. Embora o remdesivir seja o primeiro medicamento que demonstrou uma efetividade nos pacientes contaminados pelo novo coronavírus em estudo clínico, outras terapias têm demonstrado sinais de eficácia.

Isso pode, eventualmente, transformar o antiviral em uma droga obsoleta para a COVID-19. Por exemplo: pesquisadores da Universidade de Oxford já divulgaram resultados positivos com o uso de dexametasona, um corticoide barato e amplamente disponível. Afinal, a corrida por medicamentos contra o vírus está longe de terminar.