quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Da dor ao legado: mãe transforma luto em esperança com a doação de órgãos da filha

 



Em 2019, a enfermeira Rosa Ester Fontenele Chaves Ribeiro, 44 anos, viveu o que descreve como o período mais doloroso de sua vida: a perda da filha mais velha, Júlia Fontenele Ribeiro, de apenas 9 anos, após um quadro de insuficiência respiratória.

Portadora de encefalopatia, Júlia passou mais de dez dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital Regional Norte (HRN), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) em Sobral. “Ela era a nossa primeira filha, uma menina alegre, cheia de luz, que nos ensinava todos os dias sobre força e amor”, recorda Rosa.

No momento em que o chão parecia desaparecer, Rosa e a família encontraram forças na fé para transformar a dor em um gesto de solidariedade. Autorizaram a doação dos órgãos de Júlia. O que poderia ser apenas luto tornou-se também um legado de esperança. “Eu não queria que outras mães passassem pelo que a gente estava passando. Se a Júlia podia salvar vidas, esse seria o legado dela”, conta a enfermeira.


A decisão mudou não somente a vida de quem recebeu os órgãos, mas também a trajetória da mãe. Meses após a doação, Rosa que é funcionária do HRN há 11 anos, foi convidada a integrar a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott) do hospital. Hoje, ela atua no centro cirúrgico e também acompanha de perto o processo de identificação de potenciais doadores e entrevistas com famílias.

Reviver a própria história a cada conversa com parentes enlutados não é fácil, mas Rosa encontrou um propósito maior. “A saudade nunca diminui, mas a doação traz consolo. A gente sabe que outras famílias receberam um ‘sim’ que eu gostaria de ter recebido para minha filha. Difícil é, mas o prazer de poder ajudar é muito maior.”



Rosa leva experiência de mãe para acolher famílias


No Setembro Verde, mês de conscientização sobre a doação de órgãos, o exemplo de Rosa ganha ainda mais força. Sua história mostra que é possível transformar a dor em vida e inspira famílias que, mesmo em meio ao luto, encontram coragem para dizer “sim”.