sábado, 19 de julho de 2025

Celso Furtado, o criador da SUDENE

 


O paraibano Celso Furtado é reconhecido como um dos grandes pensadores do desenvolvimento regional do Brasil, em especial com respeito ao Nordeste. Talvez o maior propositor de políticas a respeito. Autor de cerca de 40 livros, ganhou projeção nacional em 1959 com a publicação de Formação Econômica do Brasil, obra fundamental para a compreensão do desenvolvimento econômico brasileiro.


No governo de Juscelino Kubitschek, apresentou um ousado projeto de desenvolvimento regional para o Nordeste. Com base no Relatório Ramagen, que denunciava os abusos da chamada “indústria da seca”, Furtado propôs a criação de uma autarquia que enfrentasse os problemas estruturais da região. Nascia, assim, a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que ele mesmo viria a dirigir. Seu Plano de Ação definia quatro ações que considerava estratégicas: 1) aumentar os investimentos industriais, 2) reorganizar a economia do semiárido, 3) ampliar a produção de alimentos na faixa úmida, e 4) deslocar a fronteira agrícola do semiárido para o Maranhão.


À frente da nova entidade, Celso Furtado enfrentou interesses poderosos. Criticou o assistencialismo que beneficiava grandes proprietários rurais e alimentava práticas de corrupção. Em seu lugar, defendeu políticas de incentivo à agricultura de subsistência e à geração de emprego no campo. Suas ações confrontaram diretamente a oligarquia nordestina e setores das Forças Armadas. A expansão dos investimentos industriais suprindo as necessárias infraestruturas, como em energia elétrica e transportes.


Com o golpe militar de 1964, Furtado foi rapidamente incluído na primeira lista de cassações promovida pelo novo regime. No dia 1º de abril, esteve com o então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, que resistia a deixar o cargo. Dois dias depois, entregou sua função e pediu asilo à embaixada do Chile. Exilado, passou 15 anos fora do país, mas continuou influente, atuando como assessor técnico das Nações Unidas e membro do Instituto Latino-Americano para Estudos de Desenvolvimento. Viveu em diversos países, como França, Estados Unidos e Chile, onde lecionou e participou de debates sobre o desenvolvimento. Mesmo exilado permaneceu exercendo o seu espírito crítico. Dedicou sua vida a entender o Brasil e produzir projetos de transformação social.


Celso Furtado deixou um legado de pensamento econômico voltado para a justiça social e a superação das desigualdades regionais. Seu trabalho à frente da Sudene marcou uma virada na forma de pensar o desenvolvimento do Nordeste — não como problema, mas como potencial a ser promovido com planejamento, coragem e visão estratégica. Em entrevista concedida em 1997, assim se referiu ao Nordeste na contemporaneidade: “O grande problema que eu vejo no Nordeste é a falta de consciência de que a união regional é um trunfo político. Eu diria que [hoje] o mais importante para o Nordeste é restaurar o espírito de unidade da região”.


Que suas ideias e iniciativas continuem sendo fontes de inspiração para tantos quantos assumam a responsabilidade de pensar e realizar projetos que possam dar solução à questão regional que o Nordeste ainda enfrenta. E que, cada brasileiro, em especial cada nordestino, preste o justo tributo à relevância de suas formulações.


Rui Leitão