O grande mito sobre o déficit público é o de considerar que o governo erra ao gastar mais do que arrecada, comparando seu orçamento com o orçamento familiar. O governo é muito maior do que uma simples família que deve gastar somente o que ganha. Mesmo assim, as famílias precisam se financiar para comprar seus bens que vão formar seu patrimônio, como financiar imóveis, por exemplo, incorporando aos seus custos o valor mensal do seu financiamento. Da mesma forma o Estado precisa se financiar para promover suas políticas públicas que muitas vezes não conseguem somente com a arrecadação tributária. Desta forma, é também um mito considerar que o déficit é uma evidência de gastos excessivos. É verdade que, no caso brasileiro, o governo precisa melhorar a qualidade dos seus gastos e a eficiência da sua máquina pública. Mas muitas vezes, os custos do déficit são proporcionados por subsídios que o governo concede à diversas categorias de empresários e atividades econômicas, por meio de manutenção de financiamentos com juros bem menores do que o cobrado pelo mercado e de ‘Renúncia” da cobrança de impostos devidos para “estimular” a economia. Só para se ter uma ideia, essas renúncias, neste ano, alcançam cerca de R$ 540bilhões que o governo deixa de arrecadar. Se o governo reduzisse ou acabasse com essa benesse não precisaria de aumentar os impostos. No entanto, essa política teria que passar pelo Congresso, mas o “lobby” empresarial não permitiria.
Mas o mito mais importante é o de considerar nos cálculos do déficit apenas o “déficit primário”, ou seja, receitas, deduzidas das despesas públicas correntes, sem considerar o custo da dívida pública com pagamento de juros, o “déficit nominal”, como o Deputado Mauro Benevides Filho vêm denunciando há muito tempo. Esse sim, é o verdadeiro déficit público que esse ano de 2025 deverá chegar a R$ 900bilhões, proporcionado por uma dívida pública atrelada, na sua maior parte à taxa Selic, valor esse que daria para financiar toda política pública do governo, com folga. A cada elevação da taxa Selic, implica automaticamente na elevação do déficit público que implica na elevação da dívida bruta do país, sem que o governo eleve suas despesas correntes.
Henrique Marinho é consultor econômico, foi servidor do Banco Central do Brasil por 35 anos, professor do Curso de Economia da Unifor por 39 anos e Presidente do Conselho Regional de Economia por três mandatos.