domingo, 1 de junho de 2025

Azia e refluxo são sequelas possíveis do coronavírus no sistema gastrointestinal, revela pesquisa da UFC

 



O comprometimento da mucosa do esôfago é mais uma das possíveis sequelas do coronavírus, o que favorece o desenvolvimento de azia e refluxo ácido. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), que identificou o aumento de sintomas esofágicos após a alta hospitalar de pacientes internados em razão da covid-19 durante o primeiro ano da pandemia, em 2020.


O resultado da pesquisa, fruto das atividades de doutorado de Dayllanna Feitosa no Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM), foi publicado, em maio deste ano, em artigo na revista Digestive Diseases and Sciences (Springer Nature). “O trabalho traz contribuições relevantes sobre mecanismos fisiopatológicos dos sintomas esofágicos persistentes em pacientes pós-covid e indica que o vírus SARS-CoV-2 pode afetar não apenas o sistema respiratório, mas também o trato gastrointestinal”, diz.


Coordenados pelos professores Miguel Ângelo Souza, Marcellus Ponte e Armênio Santos, os pesquisadores acompanharam 55 pacientes internados devido à covid-19 no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), em Fortaleza, em 2020. No acompanhamento pós-covid, realizado entre 3 e 6 meses após a alta, houve um aumento significativo de manifestações gastroesofágicas: a azia foi mencionada por 9% dos pacientes durante a hospitalização e subiu para 32,7% após a recuperação da covid, enquanto o refluxo passou de 10,9% para 30,9%.


A azia é percebida como uma sensação desagradável de ardência ou queimação no peito. Já o refluxo ácido é o retorno de pequenas quantidades de ácido ou fluxo de líquido azedo ou amargo até a garganta. Ambos estão relacionados ao esôfago, órgão que conecta a garganta ao estômago, transferindo os alimentos. Uma válvula muscular, chamada de esfíncter esofágico inferior, tem a função de impedir que o conteúdo do estômago, que é ácido, volte para o esôfago. Quando ela falha, ocorre o refluxo gástrico, que pode ter ou não a azia como sintoma.

Para a pesquisa, os pacientes foram avaliados, tanto durante a internação quanto 3 a 6 meses após a alta hospitalar, por meio de questionários validados para sintomas de refluxo gastrointestinal e gastroesofágico. Foram respondidas, entre outras, questões específicas sobre azia e refluxo ácido. A gravidade dos sintomas foi pontuada em uma escala de 1 a 7, e aqueles que relataram desconforto com pontuação igual ou maior a 4 (moderado a grave) foram considerados sintomáticos.


Seis meses após a alta, 25 dos 55 pacientes pós-covid e 8 pessoas do grupo de controle (sem a doença nem sintomas gastrointestinais) foram submetidos à endoscopia digestiva. Cada indivíduo teve amostras de sua mucosa esofágica coletadas para avaliação da integridade da barreira celular. As biópsias dos pacientes pós-covid revelaram aumento expressivo da citocina inflamatória IL-8 e da proteína Claudina-2, quando comparados ao grupo de controle, em meio ácido.


A citocina IL-8 é considerada um fator-chave no desenvolvimento da doença do refluxo gastroesofágico. Já as claudinas são identificadas como reguladoras da integridade das junções entre as células que revestem o esôfago e impedem a passagem de substâncias entre elas, protegendo o tecido esofágico de ácidos, enzimas digestivas e outros elementos irritantes.