domingo, 13 de novembro de 2022

Procissão das Almas do Patu relembra os 90 anos da pior seca da história do Ceará


Neste domingo, 13 de novembro, a Procissão das Almas do Patu, relembrou uma das páginas mais tristes da história cearense: o sofrimento dos sertanejos que, fugindo da maior seca do Ceará, em 1932, morreram em campos de concentração criados para impedi-los de chegar a Fortaleza. 

“Esses campos de concentração representam tudo o que não queremos para o Ceará. Muitas pessoas morreram nesses locais por falta de oportunidade de produzir. Que isso fique na história e sirva para a gente lutar mais pelos produtores rurais”, disse Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), que participou da procissão.

O cortejo religioso acontece todos os anos,no município de Senador Pompeu, na madrugada do segundo domingo de novembro. Homens e mulheres do campo pedem a Deus por um bom inverno e prestam homenagem àqueles que perderam suas vidas lutando contra a fome e a seca presas nos  “Campos de Concentração dos Flagelados”, na época chamados de “Currais do Governo”.


Campo do Patu

O Campo do Patu, Senador Pompeu, é o único que ainda conserva parte da estrutura usada para isolar os retirantes durante a seca de 1932. Lá, foram utilizados casarões construídos na década de 1920 pela companhia inglesa de engenharia Norton Griffiths & Company – encarregada da construção do açude do Patu, na zona rural do município. No sítio do Patu, para conter os confinados, foram utilizados o casarão dos inspetores da obra, duas casas de pólvora, um armazém, a estrutura de um hospital desativado, uma usina, um cemitério e uma estação de trem.


Efetivo dos Campos de Concentração dos Flagelados

No campo do Patu, em Senador Pompeu, o número de pessoas concentradas era de 16.221, ultrapassando o número de habitantes da cidade, segundo relatou o jornal O Povo de 20 de julho de 1932. Outros seis campos foram construídos nos municípios de Fortaleza, Crato, Ipu, Quixeramobim e Cariús. 


Em Ipu, o número de pessoas concentradas naquela data era de 6.507. Em Fortaleza, nos campos do Alagadiço e do Urubu, eram 1.800 pessoas. Em Quixeramobim, 4.542. No campo de Buriti, no Crato, 16.200 pessoas. Cariús concentrava 28.648. E em todo o estado, o total de pessoas mantidas nos campos de concentração naquele ano era de 73.918. 

Com uma área de aproximadamente 90 hectares, o sítio do Patu foi tombado como patrimônio histórico-cultural de Senador Pompeu em 2019 e atualmente está em processo de tombamento a nível estadual.