quinta-feira, 2 de junho de 2022

A Rosa diferente


“Conheci Rosa da Fonseca bem de perto. Décadas atrás.

Sozinha ou com Maria Luiza Fontenele. Quase siamesas.

Eram discípulas do Padre Haroldo Coelho e bebiam dos conhecimentos socialistas  de Célia Zanetti e de outro mentor, às sombras.

Sempre aguerridas, lendo utopias e vivenciando sonhos.

Algumas vezes, fez piquetes defronte à minha empresa, com alto-falantes e estilingues com bilas de aço.

Nunca reclamei ou reagi.

Ao mesmo tempo, procurava-me para as suas costumeiras rifas, das quais sempre participei. Sem pestanejar. Essas rifas não tinham preconceitos.  Quase todos compravam.

Ela acompanhou a Maria Luiza quando da expulsão do PT pelos crimes de coerência e de honestidade de propósitos.

Foi vereadora incandescente, em meio difícil.

Fundou, junto com a Maria, a Crítica Radical, mas não ficou nisso. Panfletava, usava megafones e descrevia o novo mundo ideal.

Anos, muito depois, compraram uma faixa de terra em interior próximo e decidiram que lá seria uma fazenda produtiva e acolhedora. Nada a ver com a da “Revolução dos Bichos”, a distopia de George Orwell.

Para que os sonhos vivessem, pensavam em tudo. A nossa última parceria foi acolher uma Exposição de Pintores de estilos diferentes, a quem ela e Maria pediram quadros para vender no Shopping Benfica.

Não práticas e nem muito organizadas, a mostra aconteceu com a renda toda para elas, não a almejada, para a “fazenda”.

Morava aqui no bairro do Benfica e já na terra adusta que amainava e recebia tratos, para ser exemplo de uma nova e sonhada realidade. Mostrava fotos.

Sofrida, aguerrida e persistente perde a  luta para o câncer.

Fica viva, para as suas hostes, sua família, sua legião(que foi minguando) de seguidores e para a história real de Fortaleza, esse exemplo de vida espartana, destemor e de acreditar em sonhos, mesmo mergulhada em dores.

Deus a acolha.”

João Soares Neto

Escritor