“Conheci Rosa da Fonseca bem de perto. Décadas atrás.
Sozinha ou com Maria Luiza Fontenele. Quase siamesas.
Eram discípulas do Padre Haroldo Coelho e bebiam dos conhecimentos socialistas de Célia Zanetti e de outro mentor, às sombras.
Sempre aguerridas, lendo utopias e vivenciando sonhos.
Algumas vezes, fez piquetes defronte à minha empresa, com alto-falantes e estilingues com bilas de aço.
Nunca reclamei ou reagi.
Ao mesmo tempo, procurava-me para as suas costumeiras rifas, das quais sempre participei. Sem pestanejar. Essas rifas não tinham preconceitos. Quase todos compravam.
Ela acompanhou a Maria Luiza quando da expulsão do PT pelos crimes de coerência e de honestidade de propósitos.
Foi vereadora incandescente, em meio difícil.
Fundou, junto com a Maria, a Crítica Radical, mas não ficou nisso. Panfletava, usava megafones e descrevia o novo mundo ideal.
Anos, muito depois, compraram uma faixa de terra em interior próximo e decidiram que lá seria uma fazenda produtiva e acolhedora. Nada a ver com a da “Revolução dos Bichos”, a distopia de George Orwell.
Para que os sonhos vivessem, pensavam em tudo. A nossa última parceria foi acolher uma Exposição de Pintores de estilos diferentes, a quem ela e Maria pediram quadros para vender no Shopping Benfica.
Não práticas e nem muito organizadas, a mostra aconteceu com a renda toda para elas, não a almejada, para a “fazenda”.
Morava aqui no bairro do Benfica e já na terra adusta que amainava e recebia tratos, para ser exemplo de uma nova e sonhada realidade. Mostrava fotos.
Sofrida, aguerrida e persistente perde a luta para o câncer.
Fica viva, para as suas hostes, sua família, sua legião(que foi minguando) de seguidores e para a história real de Fortaleza, esse exemplo de vida espartana, destemor e de acreditar em sonhos, mesmo mergulhada em dores.
Deus a acolha.”
João Soares Neto
Escritor