Por Mazé Maia. Advogada, especializanda em gestão municipal |
O turismo religioso é uma atividade socioeconômica revestida de dinâmicas marcadamente comunitárias e sociológicas. O setor conduz suas ações no sentido do cultivo da fé e da fraternidade entre as pessoas. No entanto, a adoção de políticas de desenvolvimento da indústria do turismo, com especial atenção ao aspecto religioso, ganha contornos estratégicos para o progresso dos municípios, uma vez que amplia a arrecadação fiscal, com base em empresas de prestação de serviços.
Hoje, observam-se inúmeras iniciativas no sentido de incremento do setor, principalmente por parte das municipalidades. Porém, o seu potencial de desenvolvimento demanda uma coordenação por parte de secretarias estaduais, que orbitam em torno da atividade e, quiçá, da esfera federal, dado que as maiores fontes de investimentos no setor se concentram ao nível dos ministérios.
Recentemente, como exemplo, o município de Campos Sales concluiu a construção do seu Mirante de Nossa Senhora da Penha, bem como a instalação da imagem da santa católica, seguindo o exemplo de várias cidades cearenses que já e contam com esses tipos de equipamentos e pontos de atração religiosa.
Destaque-se, ainda, todo o ambiente de negócios fomentado em torno da atividade turística, que vai desde a infraestrutura hoteleira, transportes, bares, cafés, restaurantes e comércio em geral. Um setor que exige grande número de investimentos na criação de empresas de pequeno e médio portes, o que leva a melhor distribuição de renda e geração de muitos empregos diretos e indiretos, impactando, segundo o Ministério do Turismo, cerca de 50 segmentos da economia.
São inegáveis os benefícios socioeconômicos que esse tipo de empreendimento pode levar a todas as regiões do Estado. Ao Vale do Jaguaribe, cabe despertar para essa chuva de bênçãos e fazer brotar a esperança de dias melhores nas pessoas, sobretudo as mais carentes, em substituição ao vale de promessas que, hoje, ainda vive.
Alto Santo, Ererê, Iracema, Jaguaretama, Jaguaribara, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Palhano, Pereiro, Potiretama, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe e Tabuleiro do Norte são os 15 municípios que compõem a região jaguaribana, situada às margens do rio que lhe empresta o nome.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), de 2017, a região tem uma população de aproximadamente 390 mil habitantes. As cidades de Russas, Limoeiro do Norte e Morada Nova são as mais populosas. Sob os aspectos geoambientais, o Vale se caracteriza pelos domínios naturais das planícies ribeirinhas, da Chapada do Apodi, da planície litorânea, dos tabuleiros costeiros e dos sertões.
Então, um vale fértil e banhado por um rio é prenúncio de grande desenvolvimento, certo? Não necessariamente, pois os dados de hoje ainda apontam para uma realidade diferente. Em que pese os recentes avanços sociais e econômicos alcançados pelo Estado do Ceará, a região segue como uma das mais pobres e de menor renda per capita do estado. Entretanto, as carências que se observam junto à sua população, sobretudo no aspecto econômico, contrastam com seu imenso potencial de desenvolvimento. Com destaque para o turismo, por se tratar de uma região de muita beleza natural e variadas locações turísticas, verdadeiras bençãos, que vão desde as paisagens serranas em Pereiro até praias fluviais. Como exemplos, as Barragens: de Tabuleiro do Norte, de Quixeré e de Pedrinhas, em Limoeiro do Norte, visitadas o ano inteiro, por turistas de todas as demais regiões do Estado.
Quanto ao imenso potencial para o turismo religioso, cabe destacar que o setor observa o maior crescimento no espectro dessa indústria em nosso país. Dados do Ministério do Turismo apontam para a movimentação de cerca de R$ 20 bilhões de reais, ainda em 2019.
O Brasil, tido em termos populacionais como o maior país católico do Mundo, recebe dezenas de milhares de peregrinos estrangeiros todos os anos, que vêm ao país visitar as mais de 200 atrações voltadas à fé, peregrinações e à devoção aos santos padroeiros. Com destaque para Aparecida, em São Paulo, que recebeu cerca de 12 milhões de visitantes, somente no ano de 2018. O Santuário do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, e o tradicional Círio de Nazaré, em Belém do Pará, são outros exemplos da movimentação em massa de fiéis no exercício de suas crenças religiosas.
No Ceará, a religiosidade é um dos traços mais marcantes da cultura popular, onde a devoção aos santos, refletida em seus festejos, impulsionam a economia de diversas cidades do Estado, levando milhares de pessoas a peregrinar para destinos como Juazeiro do Norte, Canindé, Crato, Santana do Cariri e Quixadá.
Os fiéis realizam essas viagens a fim de reforçarem sua fé, agradecer por bênçãos ou até mesmo apaziguar seus sofrimentos. Destaque-se, ainda, que, no Ceará, a maioria da população é católica. Consequentemente, os cearenses tornaram-se muito devotos aos santos e a eles recorrem para pedir bênçãos, saúde às suas famílias e até chuvas em abundância, verdadeiro milagre para uma região incrustada no semiárido brasileiro.
Por tudo isso e mesmo por questões culturais, o Estado tem muitos pólos religiosos, que favorecem práticas tradicionais como as romarias. No Vale do Jaguaribe, a cidade de Tabuleiro do Norte é visitada por milhares de devotos de Nossa Senhora da Saúde, na primeira quinzena do mês de agosto. O evento, que já é um marco religioso a atrair milhares de romeiros, cada ano se torna maior. Já a festa de Nossa Senhora da Saúde, no distrito de Olho D’água da Bica, hoje já figura como a terceira maior romaria do Ceará. Em Limoeiro do Norte, a comunidade do Espinho atrai milhares de devotos de Santa Luzia, para uma semana de festividades em sua homenagem. No dia 13 de dezembro, data reservada à santa pelo Vaticano, as ruas da comunidade são tomadas por uma multidão de devotos oriundos de todas as regiões do Estado e até vizinhos, em comunhão com os festejos e a religiosidade do município.
Para além dos exemplos trazidos neste artigo, há de se destacar as festas dos padroeiros, comemoradas em todos os municípios da região. São eventos com intensa movimentação social, comemorações, romarias, missas e, no aspecto econômico, grandes feiras, com toda sorte de produtos regionais e deliciosas comidas típicas.