sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Ciro Gomes, ao suspender pré-campanha, em protesto contra deputados do seu partido que votaram a favor do calote dos precatórios, alerta para fidelidade partidária

A decisão do ex-ministro Ciro Gomes de suspender sua pré-campanha à Presidência da República, chamou atenção pelo caráter não só político da medida extrema, mas, principalmente, pelo sentido de valor das obrigações partidárias e o respeito ao voto do eleitor. No caso, ele alerta ao brasileiro, que votou no PDT para ser oposição e votar a favor do daquilo que seja bom para a Nação e dentro da ética. Sem traição. 

Ciro deixou claro que é favorável ao Auxílio Brasil, mas deseja que o valor seja maior e a fonte de pagamento não venha do dinheiro retirado da educação e dos que tem precatórios a receber junto a União. Porque o não pagamento, também, acarretará problemas aos que têm direito garantido por lei, representando um calote, respaldado pelo Congresso Nacional. 

O pré-candidato sugere várias saídas para formalizar o pagamento. Uma delas é sacar das contas em desuso dos Fundos Constitucionais, que, em muitos casos, não são movimentados há 30 anos.

Na sua medida, Ciro Gomes desperta para algo esquecido pelos deputados federais, não só do PDT, mas também de outras legendas: a fidelidade partidária. O pedetista pode até votar a favor do Governo, mas precisa ter o voto transparente. As denúncias de recebimento de autorização de emendas e liberação de recursos, por parte dos ministérios, sujou a PEC dos precatórios. O Brasil está voltando aos velhos tempos do tomá-lá-dá-cá. Triste retorno. 

O presidente da Câmara, Artur Lira despachava, dentro do Palácio do Planalto, de onde disparava ligações para parlamentares e mediava a negociação de cada voto. Eles mostravam aos colegas as ligações de Lira, que entrou pela chapelaria da Câmara, pouco depois de acertar a votação, com vitória de 2/3 ou 308 votos, no primeiro turno. 

O governo não contava com a manobra de Ciro Gomes para retirar os votos do PDT e de outros partidos de centro-esquerda. O segundo turno de votação poderá ser bem mais caro para o governo e marcar o racha dentro da oposição, com graves consequências. O peso da decisão de Ciro Gomes tem repercussão política. Atéalgo mais grave, a clara demonstração de que parlamentares estão recebendo dinheiro, para colocar uma miséria mensal no bolso dos famintos, dos miseráveis. 

Além do segundo turno, a PEC terá que ser aprovada no Senado Federal, instituição responsável por aperfeiçoar projetos aprovados na Câmara Federal. Lá, estão segurando projetos importantes aprovados por deputados, com vários vícios, absurdos de legislação e fortes aspectos de inconstitucionalidade. Os deputados já engoliram e distribuíram os recursos, honraram a palavra. O segundo tempo será com o Senado. Como no futebol, onde foi criado o “VAR” para examinar faltas e impedimentos e punir quem se beneficiou, os de shorts terão a missão de rever tudo e empacotar só o que for legal.


Advogado, conhecedor das leis que regem o país e dono de um padrão ético, Ciro Gomes reconhece que, muitas vezes, vai além, mas isso pode ser verbal. Como nesse caso, em que praticamente se joga de lado um trabalho importante, que é viabilizar um projeto para governar o Brasil, principalmente, quando acaba de sair uma pesquisa do Ipespe, ex-Ibope, mostrando que ele, Ciro, tem 11% de intenções de voto e se tornou um nome que pode chegar ao segundo turno. Os deputados perderam uma grande chance de ofertar aos pobres uma ajuda melhor: os R$ 600 sugeridos pelos partidos de oposição e da base do governo.