Nos bastidores da política cearense, dizem que o ex-governador e ex-senador Virgílio Távora, de honrada memória, costumava chamar o Senado da República de “céu”. Segundo ele, aquele ambiente cercado de tapetes azuis era, e continua sendo, um paraíso de benefícios alguns vitalícios que contemplam até suplentes que ocupam o cargo por míseros quatro meses, ou até menos. Verdade ou mito? Há quem diga, entre os rebeldes dos bastidores de Brasília, que sim, é a mais pura realidade.
O fato é que, faltando ainda um bom tempo para o pleito de 2026, a disputa pelas duas vagas ao Senado Federal já vem sacudindo o cenário político cearense de forma precoce. Bastidores agitados, movimentações estratégicas, sorrisos ensaiados e compromissos sendo costurados em silêncio.
Nos corredores do poder, comentam que o Governador Elmano de Freitas e o Ministro Camilo Santana andam desconfortáveis com essa antecipação desnecessária, que desvia o foco da gestão e da entrega de resultados. Afinal, não há eleição este ano. O verbo deveria ser “trabalhar”, e não “disputar”.
Contudo, como ironia da política não conhece limites, alguns dos que mais cobram concentração e prudência, como o secretário Chagas Vieira, são justamente os que se comportam como pré-candidatos, com sorriso de quem já se vê vestido de azul senatorial. Basta assistir a seus vídeos: o desejo está estampado no rosto e nas entrelinhas.
É muita gente para poucas vagas. E tem liderança prometendo voto a todos os pré-candidatos como se houvesse assento para cada um. Esquecem que só existem duas cadeiras disponíveis, e que Senado não é fila de espera; é decisão estratégica.
Esse rebuliço me remete a uma cena de alguns anos. Fui convidado a discursar em um palanque do então prefeito de Iguatu, Agenor Neto, que apoiava Tasso Jereissati e Eunício Oliveira, à época. Eu, confundindo o cenário com o de Icó, pedi votos para três: Tasso, Eunício e Pimentel. A gargalhada foi geral. Resultado? Tasso ficou de fora. O céu não tinha lugar para todos.
Acho melhor esperar 2026. E até lá, conter a euforia, trabalhar com o pé no chão e lembrar que o Senado pode até parecer o céu, mas o caminho até lá, meus amigos, é um verdadeiro purgatório político.
(Repórter Ceará)