segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Pós-graduação em Comunicação da UFC inclui, pela primeira vez, pessoas trans e travestis em política de cotas


“Eu fui a primeira travesti do Programa. Mas, além de ser a primeira, o que eu acho que não é um mérito, eu não tive muita escuta de muitas pessoas. O que me ajudou a permanecer foi a rede criada entre corpos dissidentes, que não eram nem trans nem travestis, mas eram pessoas em suas dissidências raciais que me acolheram e entenderam minhas dificuldades”. O relato é de Noá Bonoba (foto), a única travesti a cursar mestrado ou doutorado em mais de 15 anos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom) da Universidade Federal do Ceará (UFC). 

Ela não entrou no doutorado por cotas, porque essa possibilidade não lhe foi dada. Hoje, Noá avalia a ampliação da política de ações afirmativas para pessoas trans e travestis na pós-graduação como uma conquista histórica. “Até para que outros programas se espelhem e entendam que é possível ser feito”, afirma a doutoranda.

A reserva de vagas específicas para pessoa trans e/ou travesti - uma no mestrado e uma no doutorado - foi efetivada pelo PPGCom/UFC após a Comissão de Ações Afirmativas do programa ter solicitação aprovada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da universidade. Assim, a política de cotas já existente nos cursos foi ampliada já para a seleção deste ano.

As inscrições estão abertas até 25 de agosto para formação das turmas cujas aulas iniciarão em 2024. Estão sendo ofertadas até 17 vagas no mestrado (11 para ampla concorrência e seis para ações afirmativas, sendo duas para negros(as), duas para indígenas, uma para pessoa com deficiência e uma para pessoa trans/travesti) e até oito vagas no doutorado (quatro para ampla concorrência e quatro para ações afirmativas, sendo uma para negro(a), uma para indígena, uma para pessoa com deficiência e uma para pessoa trans/travesti).

Endossada por professores e estudantes do PPGCom, as cotas para pessoas trans/travestis no programa estão sendo consideradas um avanço importante e necessário. “Além do preconceito, a falta de formação profissional é um sério agravante da ausência de pessoas trans no mercado de trabalho. Elas acabam em subempregos ou mesmo no desemprego e, assim, ficam expostas a vulnerabilidades socioeconômicas e riscos de morte. Garantir a entrada e a permanência dessas pessoas na universidade, que existe para ser um espaço de inclusão e não de exclusão, é permitir que elas tenham a chance de um futuro diferente do que nosso país hoje as impõe, que é uma expectativa de vida média de apenas 35 anos. Não é mais possível nossa sociedade ignorar a realidade dessas pessoas. A ampliação das cotas para pessoas trans e travestis no ensino superior é urgente”, afirma o membro da Comissão de Ações Afirmativas do PPGCom e aluno do doutorado, jornalista Bruno de Castro.