sexta-feira, 15 de abril de 2022

Forrozeira de raiz, cineasta e produtora cultural, Marivalda Kariri, falece em Fortaleza


Maria Valníria Pinheiro, mais conhecida como Marivalda Kariri, morreu na madrugada de hoje, 15, no Hospital da Unimed, em Fortaleza. Estava hospitalizada havia mais de um mês, após sofrer uma queda na sua casa em Milhã, na zona rural do Sertão Central do Ceará. A artista tinha 80 anos e se preparava para produzir o seu tradicional Arraial de São João no prédio do Museu do Sertão, criado e mantido por ela e seu marido, o cantor Zeca Costa.

Marivalda será velada na capela São João, na cidade de Milhã, e será sepultada no cemitério dessa cidade cearense onde nasceu e passou boa parte da sua vida. Também em Milhã, a cantora mantinha diversos projetos culturais e sociais voltados às crianças e adolescentes do município e das cidades vizinhas de Solonópole, Irapuan Pinheiro e Senador Pompeu.

Após o acidente, no final do passado mês de março, ela chegou ao Hospital e teve que ser operada, apresentando logo melhoras na sua recuperação. A sua situação piorou no começo de abril e a artista resistiu até a madrugada do dia 15, em que teve falência no funcionamento das suas funções vitais. 

Sendo uma das primeiras compositoras a misturar o forró tradicional com o humor, foi nacionalmente conhecida por sucessos como "Toco Cru Pegando Fogo", "Mulher de Garimpeiro" e "A Dança do Jumento". Também registrou a sua vida e carreira, junto com a de outros ícones da cultura cearenses, num longa-metragem de 2016. Havia quase 20 anos que Marivalda se dedicava a beneficiar a população do Sertão Central cearense com atividades beneficentes num Ponto de Cultura, um  Ponto de Leitura e o Museu do Sertão, que chegou a ser apoiado pela Fundação Cultural Palmares. 

VIDA E LEGADO

Maria Valníria Pinheiro, mais conhecida como "Marivalda Kariri", nasceu no sertão de Milhã e, após perder a sua mãe, cresceu num colégio católico de Recife (PE). Lá ela tomou  gosto pelas canções de igrejas e pelo forró de raíz, virando fã de Jackson do Pandeiro e chegando a conhecê-lo pessoalmente nos anos 50s. Foi o próprio Jackson quem reforçou com as autoridades da escola que Marivalda devia virar cantora profissional. 

Nos anos 70, Marivalda gravou, em São Paulo, repertório de choros e forró tradicional, conhecendo lá o seu parceiro musical e esposo, o músico gaúcho Zeca Costa. Com ele formou a dupla romântica "Duo Diamante", que registrou uma placa de sucesso na época. 

Na década de 80 e após uma turnê de sucesso, nada menos do que com Luiz Gonzaga, que virou o seu amigo e conselheiro, Marivalda instalou-se na Amazônia e desenvolveu suas composições próprias, nas quais mistura humor com música de raíz e o som do pop internacional. Após recuperar-se de diversos problemas de saúde, Marivalda apresentou o show "50 anos de veredas e caminhos", gravado em DVD ao vivo no teatro Dragão do Mar de Fortaleza (CE). 

A cantora foi amiga pessoal de Luiz Gonzaga, e compartilhou uma série de turnês nos anos 80, principalmente na região Norte e Amazônia. Iniciou sua carreira como adolescente nos anos 50s, após conhecer pessoalmente Jackson do Pandeiro. Desde então, ela criou composições em parceria com artistas como Pinto do Acordeon, Tarcísio Sardinha, Pedro do Cordel e Adelson Viana.

Também, sanfoneira, compositora e cineasta, Maria Valníria Pinheiro ("Marivalda Kariri"), teve mais de 70 anos de carreira musical, e ainda, produziu um filme documentário sobre sua própria vida e a de outros 3 ícones da cultura cearense, também já falecidos: Messias Holanda, Zé de Manu e Pedro Bandeira. No filme e nos palcos, ela sempre esteve acompanhada pelo cantor e esposo, Zeca Costa, companheiro dela há mais de 45 anos, que também é presidente da Associação Cultural Hugo Pinheiro, entidade com a qual Marivalda produziu a maior parte das suas propostas artísticas e beneficentes para a população do sertão.


Em 2021, Marivalda registrou o CD/DVD "Fados, Choros e Canções" no Theatro José de Alencar, que foi logo apresentado no Cineteatro São Luiz, também na capital cearense. O álbum registra músicas do repertório português, como "Nem às paredes confesso", e tradicional brasileiro, como "Anahí" e "Sorriso Chorado" de autoria da própria Marivalda. Inclusive, durante o show também foi apresentado um vídeo-clipe comemorativo com o fado tradicional "Foi Deus", popularizado por Amália Rodrigues, e filmagens geradas completamente no Ceará.  Ao longo da sua carreira, a artista registrou mais de 25 discos e suas músicas estão disponíveis em todas as plataformas digitais.

Acesse aqui o site de um dos últimos projetos beneficentes de Marivalda Kariri, o programa "Negritude no Sertão", apoiado pela Secult-CE e a Fundação Cutural Palmares: https://museufundacaohugopinheiro.com.br/negritude-no-sertao 

Mais informações: 

César A. Martín

Vice-Presidente da Associação Cultural Hugo Pinheiro

Fundação Marivalda Kariri

(85) 98880-1577 - @cesaramartin