quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Petrobras continua sendo alvo de governos para fazer política, o que é natural

O presidente Jair Bolsonaro não está nem aí para a Petrobras ou a Eletrobras. Sabidamente, quer fazer o que seus antecessores fizeram: tirar proveito político. Uma empresa como a Petrobras, que tem o monopólio dos combustíveis e do gás de cozinha, tem peso eleitoral. Bolsonaro decidiu apostar na Petrobras e na Eletrobras para seu projeto de reeleição. Afinal, todo brasileiro usa gasolina, diesel, gás e energia elétrica. Baixar preços de produtos e serviços essenciais é impactante junto ao povão, rende votos. Os ricos vão aplaudir, também. 

O jornalista Merval Pereira escreveu no O Globo que Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, porque ele se negou a colocar R$ 100 milhões na Record e R$ 100 milhões no SBT, em publicidade. As duas redes de TV são aliadas preferenciais. Merval é suspeito, por ser diretor do Sistema Globo, mas sua fonte parece ser o presidente demissionário da Petrobras. A alta no preço dos combustíveis foi o outro motivo da demissão porque Bolsonaro se sentiu traído, duplamente. O desgaste, com 34% de aumento nos preços dos combustíveis, é irreparável. 

O confronto com os governadores sobre impostos cobrados na bomba dos postos é outra pauta política importante. É meta de Bolsonaro atrair governadores para a trincheira de discussão. O presidente quer convencer os brasileiros de que a fome de cobrar impostos pelos governadores joga para o alto o preço dos combustíveis. Todos os dias Bolsonaro cutuca os governantes estaduais. Ele já alcançou uma meta: todos estão desgastados.

Bolsonaro quer pôr fogo no Brasil, a partir do debate inflamável, e incluir a energia elétrica. Um palco maravilhoso para qualquer governante se beneficiar eleitoralmente. A conta vem todo mês e cara. Mais uma vez, os governadores serão chamados para o ringue da cobrança de altos impostos. Reduzir a conta para o consumidor simboliza voto na veia.

O cargo de presidente da República é poderoso. Harmonicamente, pode alcançar metas ambiciosas, inclusive, baixar impostos, propiciar ao consumidor preços reais para produtos de alto consumo. A mesa está montada com a PEC da Reforma Tributária, em tramitação no Congresso Nacional. É possível se chegar a um acordo, beneficiando o contribuinte. Qual contrapartida que as estatais poderão oferecer para o preço dos combustíveis e energia baixarem? Nos Estados Unidos, há 50 anos a gasolina tem o mesmo preço. Lá, combustível tem grande consumo, o livre mercado define o preço e o governo tributa, tira sua parte. 

Bolsonaro tem razão, ao afirmar que tem algo de errado na Petrobras e na Eletrobras. Bem informado, deve saber muito mais do que a média dá população brasileira. Foi eleito pela sociedade que queria moralização. Ele tem um governo na mão, pode fazer o que quiser, como fez ao enxotar o indicado do ministro Paulo Guedes para o cargo e indicar um general ao comando da Petrobras. 

A classe política ainda não entrou no debate sobre a pauta fora da curva proposta por Bolsonaro. O Brasil está querendo solução para a pauta número um: a vacina. Todos indicadores apontam para a necessidade urgente de imunizar os brasileiros e o mundo contra a Covid 19. O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, e o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, estão priorizando a liberação de facilidades para comprar a vacina, sem licitação, e a PEC que cria o estado de Calamidade Pública, para pagar, com urgência, o Auxílio Emergencial. A vacinação, sendo ou não prioridade para o governo, vai ter que atuar. O governo sofrer  sofrer, além da atual pressão da sociedade, ao ter que engolir decisões da Justiça e do Congresso, ficando no isolamento.