quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

A vitória da abstenção ajudou a pôr máscaras na eleição de 2020

O político brasileiro procura explicações para justificar a vitória da abstenção. Ou seja, dos eleitores que não saíram de casa ou não deram a menor atenção aos dois turnos da eleição municipal. A versão racional é que o eleitor ficou em casa para não ser contaminado pelo Covid 19, indo votar nos mesmos de sempre. A outra versão era a falta de qualificação e de novos pretendentes. A versão que mais impressiona se baseia na tese de que o eleitor, ao se abster, queria protestar contra governos que não governam para o cidadão, torram seus impostos, roubam o dinheiro do sacrificado trabalhador, entregando o poder aos que saqueiam descaradamente o Erário.

Vou me apegar à lógica, fator preponderante para fazer uma leitura menos jocosa do comportamento de quem se absteve. O eleitor que não foi votar preferiu o andar de cima, o cômodo “não tô nem aí”, sinalizando não ter  compromisso com o prefeito que foi eleito. Esse omisso será castigado, com gestões pífias e a sequência de eleitos que não merecem sentar na cadeira de prefeito. Sinceramente, imaginei que a pandemia tinha ajudado a amadurecer o nosso povo, principalmente o eleitor.

Em todo o país, a abstenção venceu o primeiro colocado ou ficou em segundo lugar. Numa leitura, jogando o olhar sobre o mapa do país, é possível observar o equívoco. A ausência fez renascer e trazer novamente à nossa presença velhos líderes, com raras exceções, ou colocou novos com cara de velhos políticos, os descendentes de oligarquias, filhos, netos e herdeiros do que existe de pior na vida pública. 

No Rio de Janeiro, a abstenção tirou a oportunidade de mudança radical. Sabemos que o eleitor tentou com Witzel, o governador eleito para mudar o Rio, que está sendo cassado pela inocência de não ser político. Está eleito um dos prefeitos mais corruptos de uma geração. Em São Paulo, ficou o mais do mesmo, o prolongamento do reinado tucano, no seu piloto automático. 

A abstenção abateu duas lideranças com gigantesco pode de fogo eleitoral: o presidente Bolsonaro e o líder popular, Luiz Inácio Lula da Silva. O PT pela primeira vez , desde a sua fundação, não elegeu prefeitos nas capitais. Pior: não ficou entre os 10 partidos que elegeram mais prefeitos. Os 180 prefeitos petistas vão governar cidades sem expressão. O presidente Bolsonaro derreteu em popularidade, com a eleição municipal. Ele terá que refazer planos e o próprio marketing. O Covid 19 atingiu a popularidade de Bolsonaro.

A pandemia tirou o brilho da eleição, construiu um exército de revoltados com a classe política. O Covid 19, também, contribuiu, através da abstenção, para o que seria a grande virada: eleger pessoas compromissadas com causas relevantes, como a proteção aos idosos, a defesa da escola de qualidade, do apoio aos doentes crônicos, do combate a pestes como o Covid 19, a zica, a dengue, a tuberculose, da promoção do emprego. 

A extensão do erro de se abster nos faz levar a outros, também, graves. Os americanos e europeus sabem disso. Uma nação se constrói através do voto, da democracia e da liberdade de pensamento. Quem votou certo, parabéns. Quem votou errado aguente a consequência. Quem não apareceu para votar, carregue a culpa pelos futuros desacertos nos rincões do Brasil.